A ESCOLINHA DO MAR
A escola de dona Ostra fica lá no fundo
do mar.
Nesta escola, as aulas são muito
diferentes.
O Dr. Camarão, por exemplo, dá aulas
aos peixinhos menores:
- Um peixe inteligente presta atenção
àquilo que come. Não come minhoca com anzol dentro. Nunca!
O peixe elétrico ensina a fazer
foguetes:
- Quando nosso foguete ficar pronto,
vamos à terra.
Os homens não vão a Lua?
E o maestro Villa-Peixes ensina aos
alunos lindas canções:
“Como pode o peixe vivo
Viver fora d’ água fria...”
Os alunos desta escola não são apenas
peixes.
Há, por exemplo, Estela, a pequena
estrela-do-mar, tão graciosa, que é a primeira aluna da aula de balé.
Há Lulita, a pequena lula, que é a
primeira em caligrafia porque já tem, dentro dela, pena e tinta.
E há o siri-patola, que só sabe andar
de lado e por isso nunca acompanha a aula de ginástica.
Mas nem todos os alunos são
bem-comportados.
Quando o Dr. Camarão se distrai,
escrevendo na concha, Peixoto, o peixinho vermelho, solta bolhas tão engraçadas
que os outros riem, riem.
O Dr. Camarão se queixa:
- Estes meninos estão ficando muito
marotos, fazem estripulias nas minhas barbas!
No fim do ano, Dona Ostra, que é uma
professora muito moderna, leva seus alunos para uma excursão pelo fundo do
mar.
Naquele ano, os preparativos para a
excursão foram animadíssimos.
Vocês sabem, o melhor da festa é
esperar por ela.
Um grande ônibus foi contratado para
levar os alunos e professores.
Ônibus marítimo, é claro, puxado por
cavalos-marinhos.
No dia da partida, todas as mamães
foram despedir-se dos filhinhos e todas faziam muitas recomendações:
- Veja lá, hein? Não vá chegar à beira
do ar, e cuidado com as gaivotas!
- Meu filho, não chegue perto do
peixe-elétrico quando ele estiver ligado. É muito perigoso!
- Adeus, adeus, boa viagem, aproveitem
bem!
E eles aproveitaram mesmo.
Que beleza é o fundo do mar!
E como aprenderam!
- Veja, dona Ostra, que peixão tão
grande, dando de mamar ao peixinho!
- Aquilo não é peixe, não, é uma
baleia. As baleias são de outra família. Aparentadas com o homem. Por isso dão
de mamar aos filhotes.
E aprenderam muitas outras
coisas.
Viram os peixes-voadores, que davam
grandes mergulhos no ar; viram os golfinhos, que são parentes das baleias,
inteligentíssimos.
E os tubarões, muito emproados, que
andam sempre com seus ajudantes, os peixes-pilotos.
O mais emproados de todos é o Barão
Tubarão.
Mora num grande castelo de madrepérola,
com seu filho, o Tubaronete.
Naquela noite, acamparam perto do
castelo do Barão.
Todos ajudaram a armar o acampamento e,
quando tudo ficou pronto, juntaram-se e começaram a cantar;
“Roda, roda, roda,
pé, pé, pé.
Caranguejo só é peixe
Na enchente da maré...”
Ouvindo aquela cantoria, o Tubaronete
veio espiar o que havia.
Ele era um peixe muito mal-educado, não
ia á escola, nem nada, era um verdadeiro “play-peixe”.
Começou a caçoar de todos, a imitar o
jeito de cada um, que é uma coisa muito feia.
Dona Ostra ficou aborrecida.
- Olhe aqui, menino, se você quiser,
pode ficar, mas tem que se comportar direitinho, como os outros.
Tubaronete era mesmo muito
mal-educado.
Avançou para dona Ostra, vermelhinho de
raiva:
- Eu não preciso de vocês, seus peixes
de água doce, seus peixes de lata!
E arrancou a pérola de dona Ostra e
fugiu, espirrando água para todos os lados.
Dona Ostra se pôs a chorar:
- Ai, minha pérola! Como é que vou
passar sem ela? Já estava tão acostumada...
- Ah, dona Ostra, não se aflija, não -
disse Peixoto, que, apesar de pequenininho, era muito valente.
- Eu vou já ao castelo buscar a pérola.
Se ele não devolver, falo com o pai dele!
Dona Ostra empalideceu:
- Ai, não vai não! Eu tenho tanto medo
de tubarão, ainda mais de tubarão barão.
- Eu vou, sim. Se a gente ficar de
braços cruzados, sua pérola não volta nunca mais.
Chegando ao palácio do Barão, Peixoto
bateu as barbatanas com toda a força:
PLAC, PLAC, PLAC!
Veio atender ao portão uma senhora
enguia, de uniforme preto e touquinha branca na cabeça.
- Boa noite, dona Cobra, diga ao
Tubaronete que aqui está o Peixoto, que quer falar com ele sem demora – disse o
peixinho.
- Cobra, não! Dobre a língua, ouviu?
Meus patrões não têm tempo a perder com senhores Peixotos...
E foi entrando, sem querer escutar o
que Peixoto estava dizendo.
Mas Peixoto não desanimou.
Rodeou a casa até que encontrou uma
janela meio aberta e foi entrando, mesmo sem convite.
Lá estavam o Barão e o Tubaronete
jantando.
Peixoto, com o coração batendo muito,
adiantou-se:
- Desculpe, seu Barão, eu ir entrando
assim, mas tenho umas contas a ajustar aqui com o seu filho. Cadê a pérola de
dona Ostra? Devolva já, já!
Tubaronete até engasgou de susto:
- Eu ia devolver, eu ia, sim! Tome a
pérola, eu estava brincando...
O Barão Tubarão levantou-se,
furioso:
- De que é que vocês estão falando?
Pelo que vejo, o senhor meu filho já aprontou mais uma das suas! É a vergonha
da família Tubarão!
Vou-lhe aplicar um castigo tremendo!
Peixoto ficou com pena de
Tubaronete:
- Olhe, seu Barão, eu acho que o
Tubaronete é assim, por que ele não sabe nada. Por que é que ele não vai á
escola como os outros peixes?
O Barão não disse nada, mas, no ano
seguinte, Tubaronete foi o primeiro aluno que se matriculou na escola de dona
Ostra.
Faz muito tempo que essa história se
passou.
Tubaronete já não é mais aquele peixe
sem educação que era naquele tempo.
Ele, agora, é aluno de dona Ostra, dos
mais aplicados.
É ele quem apaga a concha para os
professores, e é agora o melhor amigo do Peixoto.
Os dois combinaram que, quando se
formarem, vão ser sócios.
Vão fundar uma grande agência de
turismo, para fazerem sempre outras viagens pelo fundo do mar.
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