Palitoche

O PACOTE QUE TAVA NO POTE

A bruxinha Elisa ganhou um baú que foi da mãe da bruxa da bruxa Cristina, que é a mãe da bruxinha Elisa. Hoje o baú tá pintado de lilás estrelado. Não saberia dizer pra vocês de que cor estará pintado amanhã, pois a bruxinha Elisa está sempre mudando as cores do baú.

Um dia é verde salpicado, outro dia é amarelo quindim; de repente é azul enluarado, súbito fica cor de concha recém encontrada.

O certo é que dentro do dito baú tem uma caixa. Dentro da caixa tem outra caixa. Dentro dessa outra caixa tem um saco de algodão. Dentro do saco de algodão tem um pote de louça. Dentro do pote de louça tem um pacote muito bem fechado, amarrado, lacrado e carimbado. Na parte de cima do pacote está escrito:"Para abrir este pacote fale com a andorinha Lica, em véspera de lua cheia."

A bruxinha Elisa chegou da Escola Primária de Adivinhação, foi mexer no baú e resolveu que iria procurar a andorinha Lica para saber o que havia naquele pacote.

Lembrou de pedir ajuda à abelha e foi procurá-la:

-Ai de mim, Rainha das Abelhas, onde posso encontrar a andorinha Lica em véspera de lua cheia?

- Vá até a bica - disse a abelha - Ao lado da bica tem uma pedra. Em cima da pedra tem um leque. Em cima do leque tem uma coruja. Pergunte a ela.

Lá foi a bruxinha Elisa:

-Ai de mim, Rainha das corujas, onde posso encontrar a andorinha lica em véspera de lua cheia?

- Olhe para a banda da cerejeira- disse a coruja - Ao lado da cerejeira tem um cesto. Dentro do cesto tem uma espiga de milho. Na espiga de milho tem um pardal. Peça ajuda a ele.

Corre a bruxinha pra cerejeira:

-Ai de mim, Rei dos Pardais, onde posso encontrar a andorinha Lica em véspera de lua cheia?

- Tá vendo aquele formigueiro?- perguntou o pardal- Pra lá do formigueiro tem uma cerca. Pra lá da cerca tem um pé de pitangas. No pé de pitangas tem um sagui. Pergunte a ele.

A bruxinha Elisa passa o formigueiro, passa a cerca e alcança o pé de pitangas:

- Ai de mim, Rei dos Saguis, onde posso encontrar a andorinha Lica em véspera de lua cheia?

- Cruze a ponte do Fantasma e você vai chegar à uma moita de capim- disse o sagui - Na moita de capim tem uma bota. Sobre a bota tá voando uma borboleta. Pergunte a ela.

A bruxinha não perde tempo: cruza a ponte, chega à moita, avista a bota e já vê a borboleta voando:

- Ai de mim, Rainha das Borboletas, onde posso encontrar a andorinha Lica em véspera de lua cheia?

- Vá ao bambuzal - falou a borboleta - Pra frente do bambuzal tem uma fonte. Na fonte mora a mãe d água. Pergunte a ela.

Lá vai a bruxinha, pulo aqui, pulo acolá, até a fonte:

- Ai de mim, Rainha da Mina D água, onde posso encontrar a andorinha Lica em véspera de lua cheia?

- A andorinha Lica sempre vem pousar nos galhos da amoreira em véspera de lua cheia - disse a mãe d água.

A bruxinha Elisa ficou esperando a andorinha chegar, foi até ela e pediu:

- Andorinha Lica, abra este pacote que tava dentro do pote que tava dentro do saco de algodão que tava dentro da caixa que tava dentro da outra caixa que tava no baú.

- Tem um bilhete junto - falou a andorinha ao abrir o pacote e entregou o bilhete para a bruxinha ler o que estava escrito.

"Este é o primeiro dente de leite de minha filha, bruxinha Elisa. Eu ia jogar para as andorinhas como era o costume das bruxas, mas não vejo mais andorinhas em Ribeirão do Araçá. Até a andorinha Lica, que vinha sempre no pé de figos desapareceu." Assinado Bruxa Cristina

- Então era o meu dente de leite!!!- exclamou a bruxinha Elisa, espantada com a surpresa.

Ela levou o dente de leite pra mostrar às colegas na Escola Primária de Adivinhação. A sala virou uma algazarra só. As bruxinhas queriam ver e apalpar o dente de leite da amiga. Depois, a bruxinha Elisa foi lá na frente e contou a história toda, desde o momento em que encontrou o pacote no baú.

Demorou bastante pra contar porque a todo instante alguém interrompia pra saber detalhes: de que cor era o sagui, se a abelha ofereceu um pouquinho de mel, se a formiga Cratina tava em casa, se a mãe d água tinha filhos, se a coruja tinha irmãs e uma porção de outras perguntas.

A bruxinha Elisa fez um cordão de folhas de palmeira, trançado bem fino, colocou o dente de leite e pendurou ao pescoço. Mandou tirar retrato e escreveu atrás:

Lembrança de minha meninice. BE

A PRIMAVERA DA LAGARTA

Grande comício na floresta! Bem no meio da clareira da bananeira!

Dona formiga convocou a reunião: - Isso não pode continuar!

- Não pode não! Apoiava o camaleão.

-É um dasaforo. A formiga gritava. - É um desaforo!

-É mesmo.- O camaleão concordava

A joaninha que vinha chegando naquele instante perguntava: Qual é o desaforo, hein?

-É um desaforo o que a lagarta faz!

- Come tudo o que é folha! - Reclamava o Louva-a-deus.

- Não há comida que chegue!

A lagarticha não concordava: - Por isso não, as senhoras formigas também comem.

-É isso mesmo - Apoiou o camaleão mudando de opinião.

-É muito diferente, depois a lagarta é uma grande preguiçosa. Vive lagarteando por aí.

- Vai ver que a lagartixa é parente da lagarta. Disse o camaleão que já tinha mudado de opinião.

- Parente não! - Falou a lagartixa. - É só coincidência de nome!

- Então não se meta!

- Abaixo a lagarta!- Disse o gafanhoto - Vamos acabar com ela!

- Vamos sim! -Gritou a Libélula. Ela é muito feia!

O Senhor Caracol ainda quis fazer um discurso: - É minhas senhoras e meus senhores, como é para o bem geral e para a felicidade nacional, em meu nome e em nome de todo mundo interessado, como diria o conselheiro Furtado, quero deixar consignado que está tudo errado. Mas como o caracol era muito enrolado, ninguém prestava a tenção no coitado.

Já estavam todos se preparando para caçar a lagarta.

- Abaixo a feiúra! -Gritava a aranha como se ela fosse muito bonita.

- Morra comilona! Exclamava o Louva-a-deus como se ele fosse comilão também.

- Vamos acabar com a preguiçosa! Berrava a cigarra esquecendo a sua fama de boa vida.

E lá se foram eles, cantando e marchando:

- Um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato.

- Um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato.

                                                                                                                                                                     

Mas a primavera havia chegado, por toda a parte havia flores na floresta, até parecia festa. Os passarinhos cantavam e as borboletas, quantas borboletas de todas as cores, de todos os tamanhos borboletearam pela mata. E os caçadores procuravam pela lagarta:

- Um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato.

- Um, dois, feijão com arroz, três, quatro, feijão no prato.

E perguntavam para as borboletas que passavam:

- Vocês viram a lagarta que morava na amoreira? Aquela preguiçosa, comilona, horrorosa.

As borboletas riam, riam, iam passando e nem respondiam. Até que veio chegando uma linda borboleta.

- Estão procurando a lagarta da amoreira?

- Estamos sim. Aquela horrorosa, comilona.

E a borboleta bateu as asas e falou:

- Toda lagarta tem seu dia de borboleta, é só esperar pela primavera.

- Não é possível, só acredito vendo!

- Venha ver! Isso acontece com todas as lagartas. Eu tenho uma irmã que está acabando de virar borboleta.

Todos correram pra ver. E ficaram quietinhos espiando. E a lagarta foi se transformando, se transformando até que de dentro do casulo nasceu uma borboleta.

Os inimigos da lagarta ficaram admirados.

-É um milagre!

- Bem que eu falei. - Disse o camaleão que já tinha mudado de opinião.

E a borboleta falou:

-É preciso ter paciência com as lagartas se quisermos conhecer as borboletas.